Hoje retorno à Editora Astronauta. Difícil descrever a sensação de retornar a tarefa depois de um longo período ausente, ainda mais após a experiência vivida nos últimos meses, senão o último ano, acompanhando o tratamento de minha Mãe. Em 2018, eu e minha equipe conduzimos a Astronauta com uma mão, e a outra, eu amparava e cuidava de minha mãe. Mesmo assim, diante dessa imensa e imensurável provação a qual atravessamos, tivemos a felicidade de sermos finalistas no 1º Prêmio ABERST de Literatura, com o livro Royal Destiny, de Vera Carvalho. Um momento único, especial e muito gratificante para todos nós!
Mas como retornar às atividades sem a presença de minha Grande Guerreira, que proporcionou inúmeros ensinamentos para mim? Como escrever este texto e olhar para a sala onde ficamos os últimos meses, lutando pela vida, com a bravura e a grandeza de uma alma que confiou a vida Naquele que conduziu a cruz e foi humilhado diante da multidão. E hoje, eu que olho para o quadro da Via Crucis, instalado na parede da sala, busco também no Altíssimo a esperança no amanhã.
A cama já não está mais na sala, e as caixas de remédios também não, dando lugar às flores e ao ofertório em homenagem à Mãe. As enfermeiras, Quésia e Lucilene, mãos abençoadas e verdadeiras médicas enviadas pelo Pai a nos amparar, hoje atendem a novos pacientes. Como deixar para trás esse momento de provação e seguir adiante sem carregar a experiência? Como não sentir-se transformado pela tempestade renovadora? Se a tormenta devasta, sobre o mesmo solo se refaz a morada.
Como ser a mesma pessoa diante de lições e aprendizados que mudam drasticamente o rumo de uma vida? Como não compartilhar tão abençoada mensagem de esperança, força e superação aos amigos que também trilham a jornada? Como não ser grato aos momentos mais difíceis e dolorosos da vida por tamanha bênção de aprendizado e renovação espiritual? Como não ser uma nova pessoa? Como não enfrentar a crise no mercado editorial para quem traz consigo a dor da vida? Como não enfrentar qualquer crise que seja como quem enfrentou a tempestade renovadora e hoje colhe os frutos das bênçãos imortais, que conduz a alma a patamares sublimes jamais imaginados, a qual é capaz de nos transportar à sabedoria profunda, a essência da vida?
Como não ver diante de si um novo mundo, Astronauta?
Como agradecer a tantas pessoas pela ajuda, carinho e força num momento tão delicado e angustiante? Como agradecer ao Grupo de Oração Terço de Nossa Senhora das Graças, pelo acolhimento e a conduta digna de merecimento das bênçãos do Céu, grupo do qual minha mãe fez parte e trabalhou com imensa determinação? Como se agradece a Paróquia Espírito Santo e ao Padre Vagner e Padre Roberto pelo amparo espiritual no momento mais doloroso da vida? Pelas bênçãos em cada Santa Missa? Ao cantor Thiago Brado, pela linda mensagem de encorajamento à minha Mãe à época do tratamento, que teve apoio do Padre Vagner? E ao Apostolado da Oração pelas lindas canções na despedida de minha Mãe? Aos anjos da guarda pela presença e amparo em cada prece? Como não levar comigo o ensinamento da Dona Rosa, "onde Maria passa, tudo desembaraça". Como não aprender com inúmeras pessoas com as quais convivemos, cada uma com seu jeito, com suas particularidades? Como não aprender?
Que fé é esta que os irmãos da Paróquia Espírito Santo carregam e são fiéis ao Sagrado Coração de Jesus? Embora eu traga a semente da fé em meu íntimo, ainda não consigo dimensionar a fé desses meus irmãos. Como se abalar diante da tempestade que insiste em apagar a chama da fé e arrasar tudo por onde passa, sem piedade, e mesmo assim a chama continuar acesa? Como não se resignar diante da tormenta que assola e insiste em nos transformar, aceitando os fortes golpes da provação?
Que mundo é este onde a fé é fonte viva da esperança e a vitória uma certeza no porvir?
Como não se colocar no lugar de quem sofre? Como não providenciar amparo àquele que pede ajuda? Como não ver o valor e a importância de um medicamento quando ele acaba? Ou uma luva que falta para fazer um curativo e a pomada que se esgota quando se mais precisa para aliviar a dor? Como não ver em cada remédio um alívio do Pai aos homens na Terra?
Como agradecer ao Doutor Eduardo e todos da Hemomed, clínica onde minha Mãe realizou as inúmeras sessões de quimio? E toda equipe da Quantum Life - Instituto Letícia Fontes, pela cordialidade no atendimento e todo carinho dispensado à minha Mãe? Como agradecer a nossa amiga Clarice e a inúmeros profissionais que nos ajudaram? Como agradecer a tantas pessoas? Amigos e familiares que prestaram auxílio imprescindível? À equipe de enfermagem e assistência social da Unidade Básica de Saúde de nosso bairro? Ao farmacêutico Adson, da Farma Senior, e sua equipe? A assistente social Keila, de nosso convênio? Como agradecer a Pastoral da Saúde e à enfermeira Gabriela?
Como, Senhor?!
Como retornar sem a presença da minha Mãe Guerreira? Como não carregar comigo a fé que a minha Mãe tem? Como não ser uma fortaleza assim como ela também foi e levar comigo a sua grandeza? Como agradecer aos antepassados por continuar a nossa história em cada novo passo na Terra? Como retribuir tudo isso, Deus? Como?
Quem sou eu, Senhor, senão a Tua vontade?
Esse aprendizado que trago comigo transcende as paredes de onde me encontro e reflete em um novo modo de vida, o qual quero fazer jus por merecê-lo. Essa experiência se expande para todos os demais campos da minha vida, tornando-os inseparáveis e em um só campo. Nós, da Editora Astronauta, que temos a missão de levar novas histórias ao mundo, ao mundo apresentamos a nossa própria história! Assim a Editora também segue os passos da transformação, e se antes publicávamos somente livros digitais, publicaremos também livros físicos.
A nossa autora, Vera Carvalho, publicou recentemente o livro Royal Destiny - Obra indicada ao 1º Prêmio ABERST de Literatura 2018 - e com a diagramação de Everaldo Rodrigues, tive a alegria de fazer a capa do livro.
Como não refletir esse aprendizado em meu dia a dia, no meu trabalho? Como não levar para o mundo da Editora Astronauta essa preciosa e inesquecível mensagem? Como não levar comigo o sorriso de minha Mãe quando sonhei com ela? Como não ter esperança no nosso bendito reencontro no amanhã?
Este texto, que possui mais perguntas do que respostas, traz, nas marcas das dores, um novo mundo. Quem sabe o início de uma nova obra!
In memoriam de Minha Grande e Guerreira Mãe! Pequena 🌹👨🚀
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